No final de 1908, um jovem rapaz com anos de idade começou a sofrer estranhos "ataques". Esses "ataques" do rapaz eram caracterizados por posturas de um velho, falando coisas sem sentido e desconexas, como se fosse outra pessoa que havia vivido em outra época. Muitas vezes assumia uma forma que parecia a de um felino lépido e desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas da natureza.
Após examiná-lo durante vários dias, o médico da
família recomendou que seria melhor encaminhá-lo a um padre, pois o médico (que
era tio do paciente), dizia que a loucura do rapaz não se enquadrava em nada
que ele havia conhecido. Acreditava mais, era que o menino estava endemoniado.
Após o exorcismo, realizado por um sacerdote
católico, não se conseguiu o resultado esperado, pois os ataques continuaram.
Passado algum tempo, o rapaz que se chamava Zélio,
sentiu-se completamente curado.
Alguém da família sugeriu que "isso era coisa de espiritismo" e
que era melhor levá-lo à Federação Espírita de Niterói.
Zélio foi convidado a participar de sessão e tomou
um lugar à mesa. Assim, tomado por uma força estranha e alheia a sua vontade,
Zélio levantou-se e disse: " Aqui
está faltando uma flor". Saiu da sala indo ao jardim e voltando após
com uma flor, que colocou no centro da mesa. Essa atitude causou um enorme
tumulto entre os presentes. Ao mesmo tempo aconteciam varias manifestações de
caboclos e pretos-velhos.
O diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um
absurdo e advertiu-os com aspereza, citando o "seu atraso espiritual"
e convidando-os a se retirarem.
Após esse incidente, novamente uma força estranha
tomou o jovem Zélio através dele falou: " Porque repeliam a presença dos citados espíritos, se nem sequer se
dignaram a ouvir suas mensagens. Seria por causa de suas origens sociais e da
cor?”.
Novamente uma grande confusão, todos querendo se
explicar, debaixo de acalorados debates doutrinários.
Nisso, um vidente pediu que a entidade espiritual
se identificasse. Ainda tomado pela força, o médium Zélio respondeu:
“ “fechados Se querem um nome, que seja este: sou o
Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim, não haverá caminhos “.
O vidente interpelou a Entidade dizendo que ele se
identificava como um caboclo, mas que via nele restos de trajes sacerdotais.
O espírito respondeu então:
" O que você vê em mim, são restos de uma
existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de
bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761.
Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer
como caboclo brasileiro."
Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral:
Fixar as bases de um Culto, no qual todos os espíritos de índios e
pretos-velhos poderiam executar as determinações do Plano Espiritual, e que no
dia seguinte ( 15 de novembro de 1908) desceria na residência do médium, às 20
horas, e fundaria um Templo onde haveria igualdade para todos, encarnados e
desencarnados.
" Deus,
em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, os grandes niveladores
universais, ricos ou pobres, poderosos ou humildes, todos se tornariam iguais
na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer
diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo
além da barreira da morte. Porque não podem nos visitar esses humildes
trabalhadores do espaço, se apesar de não terem sido pessoas socialmente
importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além."
“Fundava-se, assim, o primeiro Templo para o culto
de Umbanda, com a denominação “de “ Tenda
Espírita Nossa Senhora da Piedade”,
por que - nas palavras da entidade - assim como Maria acolhe em seus braços o
Filho, assim a tenda acolheria os que nas horas de aflição, a ela recorressem.
Através de Zélio de Moraes, além do Caboclo das
Sete Encruzilhadas, manifestou-se um Preto Velho, Pai Antonio, para a cura dos
enfermos. Cinco anos mais tarde, apresentou-se outra entidade, o Orixá Male,
para tratar de obsedado e combater trabalhos de magia negra.
A figura de Cristo centralizava o culto. Sua
doutrina de perdão, amor, de caridade, era a diretriz dessa religião, que
falava de perto ao coração dos humildes, anulando preconceitos, nivelando o
doutor e o operário, o general e o soldado. Daí em diante, a casa de Zélio de
Moraes passou a ser a meta de crentes, descrentes, enfermos e curiosos.
Mais tarde iniciaram-se as aulas doutrinárias para
o preparo de médiuns, que iriam dirigir os sete Templos que o Caboclo da Sete
Encruzilhadas deveria fundar como Segunda etapa da sua missão: Tenda Nossa Srª
da Conceição, com Gabriela Dionísio Soares; Tenda Nossa Srª da Guia, com Durval
de Souza; Tenda Santa Bárbara, com João Aguiar; Tenda São Pedro, com José
Meireles; Tenda de Oxalá, com Paulo Lavois, Tenda São Jorge, com João Severino
Ramos; Tenda São Jerônimo, com José Álvares Pessoa, vulgo Capitão Pessoa.
Centenas de Templos foram depois fundados sob a
orientação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, no estado do Rio de Janeiro, São
Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Pará, Rio Grande do Sul.
Sempre que possível Zélio participava pessoalmente
das instalações, quando o seu trabalho não o permitia, enviava médiuns
capacitados para organizarem e dirigiram as Novas Casas.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas nunca determinou
sacrifícios de animais para fortalecer médiuns e homenagear entidades. O
preparo mediúnico baseava-se na doutrina do ensinamento de normas evangélicas.
A água e as ervas eram os elementos ritualísticos usados, através de amacis,
banhos e defumador.
O Evangelho era à base do ensinamento da entidade
que recomendava, como lembrete constante que é necessário para a prática
correta e leal da mediunidade: não ter
vaidade, manter elevado padrão moral, proceder corretamente dentro e fora do
Templo, prestar socorro espiritual gratuitamente a todos os que dele
necessitando, recorram ao médium.
A Umbanda nos ensina a Crer num Deus único e
absoluto; nos Orixás, forças superiores que nos atuam vários campos de
revelação e chegam até nós através dos seus mensageiros, os Guias trabalhadores
dos terreiros de Umbanda; na Reencarnação - a volta do espírito,
sucessivamente, à matéria para se aproximar; na Lei de Causa e Efeito - que nos
dá a colheita correspondente ao que semeamos; no amor ao próximo base da
Fraternidade Universal.
A Umbanda indica-nos o
caminho a seguir: a prática da mediunidade como missão e nunca profissão; a
humildade, a tolerância, a compreensão; o pensamento positivo para nós mesmos e
para os nossos semelhantes; a Caridade - Amor Espiritual - na palavra e na
ação.
Zélio
Fernandino de Moraes
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Caboclo
das Sete Encruzilhadas
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(Texto extraído
do Boletim Informativo da Tenda Nossa Senhora da Piedade -ano 2003)
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